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quarta-feira, 19 de outubro de 2011





POESIA

Quatro sonetos de meditação


I



Mas o instante passou. A carne nova
Sente a primeira fibra enrijecer
E o seu sonho infinito de morrer
Passa a caber no berço de uma cova.

Outra carne vírá. A primavera
É carne, o amor é seiva eterna e forte
Quando o ser que viver unir-se à morte
No mundo uma criança nascerá.

Importará jamais por quê? Adiante
O poema é translúcido, e distante
A palavra que vem do pensamento

Sem saudade. Não ter contentamento.
Ser simples como o grão de poesia.
E íntimo como a melancolia.

II



Uma mulher me ama. Se eu me fosse
Talvez ela sentisse o desalento
Da árvore jovem que não ouve o vento
Inconstante e fiel, tardio e doce.

Na sua tarde em flor. Uma mulher
Me ama como a chama ama o silêncio
E o seu amor vitorioso vence
O desejo da morte que me quer.

Uma mulher me ama. Quando o escuro
Do crepúsculo mórbido e maduro
Me leva a face ao gênio dos espelhos

E eu, moço, busco em vão meus olhos velhos
Vindos de ver a morte em mim divina:
Uma mulher me ama e me ilumina.

III



O efêmero. Ora, um pássaro no vale
Cantou por um momento, outrora, mas
O vale escuta ainda envolto em paz
Para que a voz do pássaro não cale.

E uma fonte futura, hoje primária
No seio da montanha, irromperá
Fatal, da pedra ardente, e levará
À voz a melodia necessária.

O efêmero. E mais tarde, quando antigas
Se fizerem as flores, e as cantigas
A uma nova emoção morrerem, cedo

Quem conhecer o vale e o seu segredo
Nem sequer pensará na fonte, a sós...
Porém o vale há de escutar a voz.

IV



Apavorado acordo, em treva. O luar
É como o espectro do meu sonho em mim
E sem destino, e louco, sou o mar
Patético, sonâmbulo e sem fim.

Desço na noite, envolto em sono; e os braços
Como ímãs, atraio o firmamento
Enquanto os bruxos, velhos e devassos
Assoviam de mim na voz do vento.

Sou o mar! sou o mar! meu corpo informe
Sem dimensão e sem razão me leva
Para o silêncio onde o Silêncio dorme

Enorme. E como o mar dentro da treva
Num constante arremesso largo e aflito
Eu me espedaço em vão contra o infinito.
 poemas de Vinicius de Moraes
postados por marlene de goes


SITE VINICIUS DE MORAES .COM

5 comentários:

chica disse...

Tuas andanças pela internet dão bons frutos.Lindas escolhas! beijos,chica e boa noite!

espaço esplendoroso disse...

Olá.
Maravilhosos sonetos, podemos viajar com Vinícius de Moraes. bks. Ieda.

Sônia Silvino (CRAZY ABOUT BLOGS) disse...

Concordo com a amiga Chica. Andas arrasando, amiga!
Beijocas!

ValeriaC disse...

Que preciosidades minha querida...um soneto mais lindo que o outro...
Doce seja seu dia amiga...beijos...
Valéria

Evanir disse...

Hoje minha visita é para anunciar
uma novo circulo de minha vida.
Continuarei com as homenagens
que é a razão do blog (A VIAGEM)
A imagem escolhida por mim no novo visual
tem tudo a ver com o futuro, não só do blog,
mas da surpresa que a qualquer
momento será anuciada no blog.
Hoje sou parte da vida de cada
pessoa amiga e tão amada por mim,
também sou membro do Clube dos Novos Autores.
Com muita alegria convido você a paricitipar com
todos nós do clube também.
Minha Viagem prossegue amando e acarinhando todas
minhas lindas amizades.

Deixando um pedido muito importante para mim.
Eu não estou deixando vocês ,
E sim, entrarei na casa de cada um de vocês.
Conto com o carinho de sempre em meu blog,

Esteja comigo como sempre estiveram
Deus estara com você e comigo.
Segure nas mãos de Deus e na minha e vamos nessa
Deus já abençoou.
Com carinho.
Um feliz final de semana beijos.
Evanir
PAZ..

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