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sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

NÃO SEI QUANTAS ALMAS TENHO


Não Sei Quantas Almas Tenho (Fernando Pessoa)

Não sei quantas almas tenho.
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem acabei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não atem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,
Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem;
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.
Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas, meu ser.
O que sogue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo: “Fui eu?”
Deus sabe, porque o escreveu.


postado por marlene de goes






quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

CHÃO DE ESTRELAS





Chão de Estrelas

Silvio Caldas

Minha vida era um palco iluminado
Eu vivia vestido de dourado
Palhaço das perdidas ilusões
Cheio dos guizos falsos da alegria
Andei cantando a minha fantasia
Entre as palmas febris dos corações
Meu barracão no morro do Salgueiro
Tinha o cantar alegre de um viveiro
Foste a sonoridade que acabou
E hoje, quando do sol, a claridade
Forra o meu barracão, sinto saudade
Da mulher pomba-rola que voou
Nossas roupas comuns dependuradas
Na corda, qual bandeiras agitadas
Pareciam estranho festival!
Festa dos nossos trapos coloridos
A mostrar que nos morros mal vestidos
É sempre feriado nacional
A porta do barraco era sem trinco
Mas a lua, furando o nosso zinco
Salpicava de estrelas nosso chão
Tu pisavas os astros, distraída,
Sem saber que a ventura desta vida
É a cabrocha, o luar e o violão
SILVIO CALDAS 
Postado por marlene de goes


sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

O TEU OLHAR

O Teu OlharPassam no teu olhar nobres cortejos, 
Frotas, pendões ao vento sobranceiros, 
Lindos versos de antigos romanceiros, 
Céus do Oriente, em brasa, como beijos, 

Mares onde não cabem teus desejos; 
Passam no teu olhar mundos inteiros, 
Todo um povo de heróis e marinheiros, 
Lanças nuas em rútilos lampejos; 

Passam lendas e sonhos e milagres! 
Passa a Índia, a visão do Infante em Sagres, 
Em centelhas de crença e de certeza! 

E ao sentir-se tão grande, ao ver-te assim, 
Amor, julgo trazer dentro de mim 
Um pedaço da terra portuguesa! 

Florbela Espanca, in "A Mensageira das Violetas"

Tema(s): Amor  Olhos  Portugal POSTADO POR MARLENE DE GOES
Ler outros poemas de Florbela Espanca 
 

domingo, 10 de fevereiro de 2013

MOTIVO


Motivo
Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.
Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.
Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
- não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.
Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
- mais nada.
Cecília-Meireles
*POSTADO POR MARLENE DEGOES

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

PALAVRAS NA AREIA


PALAVRAS NA AREIA


Sou o que me resta,
não há leito de morte,
não há corte no meu peito,
nem sombras pra dissipar.

Eu poderia ser tantas coisas...
um suicida, 
um sacerdote, 
um aprendiz
ou apenas um tolo,
refazendo o seu jardim.

Eu poderia ter tantas coisas...
funções, 
religiões, 
alucinações
ou somente ter...
um plano prá partir.

Sou apenas esta frase se formando
uma mente se ajuntando
apagando palavras na areia
pra se esparramar de novo.

Sou o que vai ficando
com a porta entreaberta para o inevitável
sem palmos pra medir certezas
nem passos pra traçar limites.


Marcos tavares de souza
postado or MARLENE DE GOES

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

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